Zé Kinceler: Cultivos em Totens
- Abril de 2024
- Centro Cultural Veras – Florianópolis
- Função: Assistente de Produção
Participar do projeto Cultivos em Totens foi, para mim, mais do que uma atividade de assistência de produção, foi um encontro. Desde os primeiros momentos, acompanhei a implementação da obra no Centro Cultural Veras, auxiliando nos processos iniciais e colaborando com o cuidado cotidiano de uma criação que ultrapassa os limites tradicionais da arte. Zé Kinceler (1960-2015), embora eu não o tenha conhecido em vida, tornou-se uma presença constante nesse processo, atravessando meus dias em formas silenciosas, mas profundamente marcantes.
O cuidado diário com os totens, regar, observar o crescimento, tocar a terra, se transformou em um gesto ritualístico. Um momento de pausa e conexão que me levou a refletir sobre o sentido ampliado da prática artística proposta por Kinceler. Como escreve Josué Mattos, Zé defendia um “entrelaçamento de saberes” capaz de combater o isolamento e o individualismo. E foi exatamente isso que vivi: uma experiência de escuta e troca, com a terra, com o espaço, com os saberes ali cultivados.
A obra de Kinceler, como aponta Josué Mattos, é uma recusa às categorias fixas e ao sistema que busca massificar o sentir. Ao lidar com os totens como corpos vivos, plantados em estruturas verticais que confundem o objeto e o sujeito, compreendi que minha participação não era apenas técnica, mas afetiva e simbólica. Na lida com a terra e as plantas, descobri um outro tempo, um tempo de cultivo, onde a prática artística se desdobra em cuidado e presença.
Mesmo não tendo vivido a trajetória de Kinceler diretamente, o legado de seu pensamento e sua prática me atravessaram de forma viva e concreta. O Sistema Verde Vertical não é apenas um dispositivo escultórico; é, como diz Josué Mattos, um gesto de resistência, uma proposta de “introduzir diferenças capazes de instaurar outras visões e práticas.” E foi nesse espaço entre arte, terra, cuidado e memória que pude experienciar, ainda que brevemente, a potência de um fazer coletivo que transforma.